quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Ciclo de vida do papel

Ciclo de vida do papel

O papel, sucessor do papiro e do pergaminho, começou a ser utilizado no ano 105 d.C. pelos chineses, que mantiveram por séculos seu segredo de fabricação. A expansão para o Ocidente só ocorreu no ano 751, sendo hoje um dos produtos mais utilizados pelos seres humanos.

O ciclo de vida do papel, no Brasil, inicia-se com plantio do eucalipto, que leva de seis a sete anos para atingir a idade de corte. Em menor proporção é também utilizado o pinus. Para produzir uma tonelada de papel são necessárias aproximadamente duas toneladas de eucalipto, que equivale a 20 árvores.

Sua principal matéria-prima é a celulose, obtida a partir de fibras celulósicas, retiradas dos troncos dessas árvores. São usados também produtos inorgânicos para dar ou melhorar certas propriedades do papel.

Papel é fundamental ao nosso modo de vida. Por isso, não há como negar a importância dessa atividade econômica. Porém, como qualquer outra, se não for exercida com responsabilidade sócio-ambiental, torna-se fator de degradação e destruição de ambientes naturais.

Como qualquer outra monocultura, plantios florestais podem causar desmatamento e impactos sobre a biodiversidade; erosões; poluição hídrica por agrotóxicos, óleos e graxas (de caminhões e máquinas agrícolas) e carreamento de sedimentos (devido à aragem do solo, abertura de vias etc).

Como já existem muitas áreas desmatadas em todo o país e grande parte delas está abandonada, não há necessidade de desmatamento para produção de papel.


PROCESSO PRODUTIVO

Quando chegam à idade adequada, as florestas são cortadas e a madeira é transportada às fábricas por caminhões, que normalmente utilizam combustíveis fósseis, que liberam gases poluentes na atmosfera. Esse impacto deve ser minimizado ao máximo através da regulagem de motores e economia de combustível. As florestas industriais absorvem gases de carbono quando estão em crescimento. Quando são cortadas, há liberação dos mesmos para a atmosfera, impacto que não há como ser evitado.


OBTENÇÃO DE CELULOSE

As toras, ao chegarem à fábrica, são descascadas, lavadas, picadas em pequenos pedaços (para facilitar difusão dos reagentes químicos) e são, então, direcionados à etapa de formação da polpa.

O processo de polpação mais utilizado no Brasil é o Kraft, onde os cavacos de madeira são submetidos à reação com licor branco (hidróxido de sódio e sulfeto de sódio) dentro de um digestor. Ali, são mantidos a altas temperaturas e pressões, que dissolvem componentes da madeira que não interessam ao produto final, principalmente lignina – molécula orgânica associada à celulose.

Durante esse processo, há formação de compostos voláteis de enxofre (mercaptanas) que liberam mau cheiro. Esses compostos são classificados, usualmente, como Gases Não-Condensáveis (GNC), que podem ser diluídos ou concentrados. Para reduzir o odor e também a emissão de partículas (Sox – óxido de enxofre, CO – óxido de carbono e Nox – óxido de nitrogênio) para a atmosfera, instalam-se icineradores de gases. Porém, nem todas as empresas do setor possuem sistema de coleta e queima dos gases diluídos (apenas dos concentrados). Por isso, em muitas delas, ainda é comum perceber esse cheiro forte em seu entorno.

O processo de cozimento da madeira gera efluente conhecido como “licor negro”, que tem elevadas cargas de matéria orgânica e sólidos em suspensão. Uma típica indústria de celulose pelo processo kraft (1000 t/dia) pode despejar montante equivalente ao esgoto doméstico de uma cidade de 120 mil habitantes. Se este efluente não for tratado antes de ser despejado nos cursos d’água, pode causar gravíssimos impactos ambientais pois para ser processado pela natureza, retira todo o oxigênio da água, matando qualquer forma de vida em boa parte da mesma.

Por isso, todo efluente gerado tem de passar por estações de tratamento e só ser lançado nos rios atendendo às especificações da Resolução 357 do Conama e legislações estaduais.

A polpa resultante é submetida ao processo de branqueamento, que consiste em vários estágios onde são utilizados diversos reagentes químicos. Ela é lavada com grande quantidade de água entre um estágio e outro para que as substâncias responsáveis pela coloração sejam removidas. A água suja é tratada e enviada ao corpo d’água receptor.

Durante o processo de clareamento químico, pode haver formação de dioxinas (compostos organoclorados) devido à utilização de reagentes como dióxido de cloro. Conforme Resolução 357 do Conama, essas substâncias devem ser completamente eliminadas no tratamento dos efluentes antes de serem lançados nos corpos hídricos. Pesquisas têm sido feitas para reagentes alternativos como o ozônio e o peróxido de hidrogênio.

Por motivos diversos, o mercado dá preferência ao papel branco. Utilização de papel ecograph, que é clareado a oxigênio e as folhas ficam com coloração creme, pode ainda vir a ser alternativa, considerando que os custos ambientais de produção do papel branco são muito mais altos e caros.

Ao final do branqueamento, a celulose está bastante diluída em água, havendo, então, necessidade de secá-la para envio ao mercado consumidor. A máquina de secagem forma uma folha contínua de celulose, que é, logo em seguida, cortada em pedaços retangulares. Esses são empilhados e amarrados com arame, constituindo os fardos de celulose.

O transporte dos fardos para as fábricas onde será produzido o papel propriamente dito é feito por caminhões, gerando impactos já citados, relativos à queima de combustíveis fósseis. Como no Brasil o governo priorizou transporte rodoviário, o gasto dos mesmos é muito grande. A exportação normalmente é feita por navios.


FABRICAÇÃO DO PAPEL

Na fábrica de papéis, as folhas de celulose retornam à condição de polpa. Nessa etapa, são adicionadas a ela as chamadas cargas, que são produtos inorgânicos para proporcionar maior uniformidade, lisura e opacidade. Entre esses produtos o principal é o caulim (minério composto de silicatos hidratados de alumínio que apresentam plasticidade e resistência mecânica a seco). Além das cargas, podem ser adicionados outros produtos inorgânicos para se obter características necessárias aos diversos tipos e cores de papel, tais como colas e corantes.

Depois essa pasta é misturada a grandes quantidades de água, na proporção 1:99 (ou seja, uma parte de polpa para 99 partes de água), formando suspensão leitosa que será levada para as máquinas e cilindros que formarão a folha de papel. As folhas produzidas são inicialmente enroladas em enormes bobinas. Por fim, são cortadas mecanicamente e caminham por esteiras até serem embaladas, normalmente, com embalagens plásticas. São, assim como a celulose, transportados às empresas revendedoras por transporte rodoviário.


RECICLAGEM

No processo de reciclagem do papel, há redução considerável do consumo de energia e água e da poluição da água e do ar, se comparado à fabricação do papel a partir da matéria-prima virgem.

É importante ressaltar que as fibras resultantes dos papéis reciclados têm capacidade limitada de reciclagem – considera-se o limite entre 5 a 7 ciclos. A cada ciclo, elas perdem tamanho, flexibilidade e capacidade de ligação, por isso, a continuação da produção de fibras virgens é necessária. Além disso, o processo de reciclagem, como qualquer processo industrial, pode gerar impactos negativos ao meio ambiente se os efluentes resultantes não forem devidadamente tratados.

Papéis que podem ser reciclados

O processo de reciclagem no Brasil é infelizmente ainda muito pequeno, pois faltam infra-estrutura, fábricas e conscientização. Políticas públicas na área são poucas e frágeis.

Mas, podem ser recicladas folhas e aparas de papel, jornais, revistas, caixas, papelão, formulários de computador, cartolinas, cartões, envelopes, rascunhos escritos, fotocópias, folhetos, papel de fax, impressos em geral e tetra pak.
Devem estar secos, limpos (sem gordura, restos de comida, graxa etc), de preferência rasgados, e não amassados. As caixas de papelão devem estar desmontadas por uma questão de otimização do espaço no armazenamento.

No caso do papel, apenas 37% do volume total produzido é reciclado.

Para encaminhar papel para reciclagem, assim como plástico, metal, vidro, lâmpada e bateria, consulte o site www.rotadereciclagem.com.br. Basta digitar o endereço na ferramenta de busca e esta indicará onde encontrar os pontos de recolhimento mais próximos.


DESTINAÇÃO FINAL

A destinação dos papéis descartados gera impacto pelo alto volume de lixo gerado. Isso se deve à precariedade do sistema de coleta seletiva ou completa inexistência dele na maior parte do país.

Há muito desperdício de papel pelos consumidores finais: empresas, poder público e pessoas físicas. Excesso de embalagens (produtos vendidos com até três), baixa reutilização (impressão em somente um lado da folha) e não economia (impressões desnecessárias, descarte por qualquer motivo) são alguns deles.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como qualquer produto que consumimos, o papel tem seu ciclo de vida, e este que começa pelo plantio de florestas e termina com o consumo do produto por toda a sociedade. Muita gente desconhece isso, o que pode levar à despreocupação quanto aos danos ambientais que podem ser causados nas diversas etapas de seu processo de fabricação.

Redução de consumo é a melhor atitude que podemos ter pois, mesmo o papel produzido por empresas que atuam com responsabilidade ambiental traz consigo gasto de matérias primas retiradas do meio ambiente natural e impactos ambientais (mesmo minimizados).

Para ajudar consumidores responsáveis e conscientes, aqui vão algumas dicas para reduzir ao máximo possível o uso de papel. Por exemplo: não leve para casa excesso de embalagens, reutilize papel dos dois lados, evite imprimir o que não for essencial, dê preferência a produtos reciclados ou que possuem selo de certificação do FSC (Conselho Brasileiro de Manejo Florestal – do inglês Forest Stewardship Council) e, finalmente, separe o lixo doméstico e doe materiais recicláveis para cooperativas de catadores.



Referência:
AMDA: Jaime Batista Ramos

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