quinta-feira, 14 de abril de 2011

Convivendo com idosos em ILPI


Convivendo com idosos em ILPI

Convivendo com idosos em ILPI

Na minha atuação profissional, tive a oportunidade de aliar ao conhecimento teórico a prática vivencial do dia-a-dia na relação com os idosos. Convivi como Coordenadora do Centro de Convivência Vila Vida, unidade assistencial da Organização das Voluntárias de Goiás, que atende idosos independentes com a alegria, lazer e o potencial ainda vívido de adultos maduros, no pleno vigor de sua maturidade. Local de alegria, convivência e por que não dizer, de total aproveitamento do tempo livre, oriundo dos benefícios advindos com o tempo e com a aposentadoria.

Uma experiência rica profissional e individual na convivência com as diferentes demandas dessa maravilhosa turma de cabelos brancos. Recebi o convite para assumir o antigo Abrigo Sagrada Família, hoje denominado de Complexo Gerontológico Sagrada Família, uma unidade longa permanência para idosos dependentes e semi-dependentes que atende 60 idosos, desprovidos financeira e afetivamente. Uma experiência que julgo ser privilégio de poucas pessoas, pois ali não se tratava de um trabalho, um emprego público… ali estavam pessoas frágeis que precisavam de cuidados respeitosos, sem infantilização. Baseada no carinho, nos limites e no respeito à vida, tinha uma missão: a de gerenciar com rigor e conhecimento aliado à sensibilidade, a vida daquela instituição.

Deparei-me, inicialmente, com a ausência de profissionais qualificados, pessoas que trabalhavam com carinho, mas que por muitas vezes se deparavam com os limites da ausência do conhecimento direcionado às pessoas da terceira Idade, isso gerava desgaste na imposição de limites, de respeito àquela pessoa que envelheceu, mas que ainda tem preservado sua dignidade humana. Era preciso explicitar e implantar uma nova forma de ver a pessoa idosa: não é criança, não é um ser débil, mas uma pessoa que exige cuidado… Quantas pequenas grandes coisas nos deparam no dia a dia, funcionários que burlavam as regras estabelecidas dando cigarro para idoso com enfisema pulmonar, dizendo: “tadinho, o que tem dar um cigarrinho, a vida está tão sem sentindo…” e assim por diante. A luta era árdua: fazer compreender que amor e cuidado também requerem limites.

Numa unidade como o Complexo Gerontológico Sagrada Família são inúmeras as demandas, as dos próprios idosos, da comunidade, dos estudantes ávidos em busca de dados de pesquisa, e principalmente a busca incessante das famílias, entre muitas de classe média alta, a buscar os serviços para o real abandono familiar.

Aspectos gerenciais, recursos humanos são desafios, mas simples de serem superados. O maior desafio durante minha gestão era fazer com que as pessoas, famílias e técnicos acreditassem que as ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos) deveriam funcionar para os casos de exceção e não uma regra a ser implantada, como mero espaço depositário de pessoas idosas.

Deparei-me com a ausência de amor, com o abandono familiar, com a astúcia de alguns familiares para o uso do dinheiro do idoso, deparei-me com o desrespeito humano. Foram essas as questões que me sensibilizaram e que me absorveram durante 14 horas diárias de trabalho.

Na época, professora universitária e com uma clientela de pacientes na minha clínica de psicologia, me vi profundamente dividida e com uma responsabilidade imensa: a de transformar a realidade daquelas pessoas que viviam e trabalhavam ali. Mergulhei profundamente na tentativa de implantar um trabalho diferenciado voltado à população idosa.

Uma experiência sem dúvida que agregou inúmeros valores à minha vida pessoal e profissional. Numa instituição existem inúmeros problemas, afinal, conciliar abandonos, carências e visões diferenciadas do processo de envelhecimento é aprender a conviver com a diversidade das pessoas.

Quebrei paradigmas como administradora que sou, afinal, a teoria na prática é outra e muitos conceitos foram sendo revistos no dia-a-dia. Penso que é de fundamental importância que os profissionais, a sociedade, se capacite para o atendimento à pessoa idosa, mas que imperiosamente seja capaz de visitar o próprio coração. Costumo dizer aos alunos nos cursos de cuidadores de idosos: cuidar de idoso é um exercício constante de humanidade, é a possibilidade cotidiana de rever o próprio coração e externar ao próximo, o idoso, o nosso amor.

Referência: Jaime Batista Ramos

Um comentário:

  1. Preservar o ambiente é preservar a qualidade e a vida hoje e sempre?...!
    melhor com consciêcia aos desprovidos financeira e afetivamente.
    sustentabilidade plena

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